terça-feira, 27 de dezembro de 2011

MEUS OITO ANOS (Casimiro de Abreu)



MEUS OITO ANOS
Casimiro de Abreu

Oh!  Que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tarde fagueiras,
À sombra das bananeiras
Debaixo dos laranjais!

Como são belos os dias
Do despontar da existência!
Respira a alma inocência,
Como perfumes a flor;
O mar é lago sereno,
O céu, um manto azulado,
O mundo, um sonho dourado,
A vida, um hino de amor!

Que auroras, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado de estrelas,
A terra d’aromas cheia,
As ondas beijando a areia,
E a lua beijando o mar!

Oh! Dias da minha infância!
Oh! Meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das magoas d’agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias,
E beijos de minha irmã!

Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberto o peito,
Pés descalços, braços nus,
Correndo pelas campinas,
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!

Naqueles tempos ditosos
La colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!

Oh! Que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida,
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tarde fagueiras,
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!


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